Informações

A produção de biodiesel cresceu 29% em 2024 e atingiu um novo recorde ao chegar a 9,07 bilhões de litros, segundo Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove). A soja respondeu por 79% da oferta. Embora a perspectiva futura seja positiva para o setor, alguns desafios tendem a limitar esse avanço, analisa Andrés Nassar, presidente da associação. “Vamos ter que resolver o problema das fraudes no setor e enfrentar a questão do diferencial de preços em relação ao diesel”, diz.

Em outra frente, o teor da mistura no diesel, que deveria ter subido para 15% neste mês, foi congelado em 14% pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a pretexto de combater a inflação. A decisão pegou o setor de surpresa e gerou incertezas, diz o gerente de desenvolvimento de negócios da Argus, Amance Boutin. Segundo ele, a indústria agora desacelera investimentos e 670 milhões de litros, ou cerca de 7% da produção realizada em 2024, deixarão de ser produzidos.

O óleo de soja subiu 28% no ano passado, segundo o IBGE. Mas a alta, lembra Boutin, ficou concentrada entre setembro e dezembro. Nos primeiros dois meses deste ano, os preços no varejo recuaram 2,84%.

Mas o diferencial de preços para o diesel convencional persiste. Na saída das refinarias, o diesel A (sem mistura) alcançou R$ 3,80 por litro, conforme Nassar, diante de R$ 5,76 registrados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para o biodiesel na semana terminada em 16 de março deste ano. Boutin considera o preço médio do diesel importado da Rússia, próximo de R$ 3,24 por litro, e R$ 5,38 para o biodiesel entregue em Araucária, sede da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), numa diferença de 66%.

Como pontos favoráveis, o custo do biodiesel caiu quase 12% entre a terceira semana de novembro e segunda semana de março, nos dados da ANP, além de os preços do diesel na refinaria superarem a paridade internacional em 14,8% - R$ 3,72 para o combustível nacional versus R$ 3,24 para o importado, conforme Boutin. “Isso afasta o risco de decisões intempestivas, como uma redução da mistura”, avalia o consultor.

Além disso, a Lei do Combustível do Futuro estabelece que, a partir de 2031, o diesel deverá conter 25% de biodiesel. A indústria, de acordo com Nassar, precisará dobrar sua capacidade de processamento de soja - com instalação de 47 novas esmagadoras e 33 novas plantas de biodiesel, num investimento previsto de R$ 53 bilhões - para produzir o volume necessário até lá.

As possibilidades de crescimento para o setor incluem também novos formatos de geração de energia. Na Usina Termelétrica de Uruguaiana (RS), operada pela Âmbar Energia, duas turbinas que poderiam funcionar a gás natural ou a diesel convencional foram convertidas pela Siemens Energy para rodar integralmente com biodiesel. “Os testes demonstraram que esse combustível tem grande potencial de ser implementado em turbinas a gás novas e já existentes sem demandar grandes investimentos”, afirma Armando Juliani, vice-presidente de gas services da Siemens Energy.

Lauro Veiga Filho – Valor Econômico

Veja mais